(Artigo publicado em Reformador de agosto de 1997, pp. 240-43
e 253-55.)
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estudo sobre a mediunidade
SILVIO E CLARICE SENO CHIBENI
1.
Introdução
A
mediunidade desempenha papel essencial no estabelecimento da base experimental
da ciência espírita e nas atividades dos centros espíritas.
Seu estudo sistemático e contínuo possibilita a correta compreensão tanto de
sua natureza como de suas finalidades, habilitando-nos a dela obter seguros e
produtivos resultados, com vistas ao nosso aperfeiçoamento intelectual e moral.
Esse
estudo deve necessariamente estar centralizado no mais completo e profundo
tratado que já se escreveu sobre a mediunidade: O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Os presentes apontamentos
devem ser tidos unicamente como uma exposição
incompleta de alguns tópicos importantes, destinada a facilitar posteriores contatos com essa obra fundamental e a vasta literatura
subsidiária surgida desde sua publicação, em 1861.
No
Vocabulário Espírita que forma o capítulo 32 desse livro Kardec dá como
sinônimos os termos mediunidade e medianimidade,
definindo-os com “a faculdade dos médiuns”.
Quanto à palavra médium, Kardec
explicita o seu significado em várias passagens de suas obras, como por exemplo
nesse mesmo Vocabulário, onde se encontra esta definição sucinta:
MÉDIUM.
(do latim, medium,
meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os
Espíritos e os homens.
Ao
analisar os conceitos de médium e de mediunidade, faz notar que a palavra médium comporta duas acepções distintas,
expressas com clareza neste trecho da Revue Spirite:[1]
Acepção ampla:
Qualquer
pessoa apta a receber ou a transmitir comunicações dos Espíritos é, por isso
mesmo, médium, quaisquer que sejam o modo empregado e o grau de desenvolvimento
da faculdade, desde a simples influência oculta até à produção dos mais
insólitos fenômenos.
Acepção restrita:
Em seu
uso ordinário, todavia, esse termo tem uma aplicação mais restrita, aplicando-se
às pessoas dotadas de um poder mediador suficientemente grande, seja para a
produção de efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos
pela escrita ou pela palavra.
Quando
analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos
está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem
fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que “todos [os
homens] são quase médiuns” deverá ser entendida
apenas na acepção ampla do termo,
pois sabemos, pela questão 459 de O Livro
dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos
Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos
em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no
sentido restrito e usual da palavra,
ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações
ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os
efeitos físicos etc.
2. A
natureza da mediunidade
Limitando-nos
daqui para frente à acepção restrita do termo ‘médium’, que é a mais usual e
relevante, estaremos, no que se vai seguir, entendendo a mediunidade como a aptidão especial que certas pessoas possuem para
servir de meio de comunicação entre os Espíritos e os homens.
A
questão que naturalmente surge neste ponto é a de se determinar qual é a natureza da faculdade mediúnica: quais
as suas causas, por que surge somente em determinadas pessoas e em modalidades
e graus diversos, se é passível de desenvolvimento
forçado mediante alguma técnica etc.
Um
aspecto central relativo à natureza da mediunidade acha-se exposto na resposta
à questão que Kardec endereçou aos Espíritos no parágrafo 226 de O Livro dos Médiuns:[2]
O
desenvolvimento da mediunidade guarda proporção com o desenvolvimento moral dos
médiuns?
“Não;
a faculdade propriamente dita prende-se ao organismo; independe do moral. O
mesmo, porém, não se dá com o seu uso, que pode ser bom ou mau, conforme as
qualidades do médium.”
Como
observamos pela resposta dos Espíritos, a capacidade de servir de “ponte” entre
o mundo espiritual e o mundo material está ligada a fatores de ordem orgânica.
Esse ponto encontra-se exarado em vários lugares das obras de Kardec e de
outros autores espíritas abalizados, passando, no entanto, despercebido à
maioria das pessoas, mesmo espíritas.
Já
em 1859 Kardec afirmava, em seu livro Instruções
Práticas sobre as Manifestações Espíritas que “essa faculdade depende de uma disposição orgânica especial, suscetível de desenvolvimento.”[3]
Em O Livro dos Médiuns as referências
nesse sentido são numerosas. No parágrafo 94, por exemplo, que trata das
manifestações físicas espontâneas, os Espíritos informam que a aptidão de ser
médium de efeitos físicos “se acha ligada a uma disposição física.” Bem mais
adiante, ao estudar a formação dos médiuns (§ 209), Kardec retorna ao assunto:
Têm-se
visto pessoas inteiramentre incrédulas ficarem
espantadas de escrever [mediunicamente] a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o
que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.
Notemos
que nesta última passagem há referência a mais um princípio
importante: a mediunidade não depende das convicções
filosóficas ou das crenças religiosas
do médium.
Por
fim, em resposta à questão 19 do parágrafo 223 desse mesmo livro os Espíritos
esclarecem que “a mediunidade propriamente dita independe da inteligência bem
como das qualidades morais” do médium. Portanto a mediunidade independe também
do desenvolvimento intelectual do
médium.[4]
Resumindo
o que vimos até aqui:
A mediunidade é a faculdade especial que
certas pessoas possuem para servir de intermediárias entre os Espíritos e os
homens. Ela tem origem orgânica, e independe:
· da condição moral do médium;
· de suas crenças;
· de seu desenvolvimento
intelectual.
No
parágrafo 200 de O Livro dos Médiuns,
Allan Kardec deixa claro que “não há senão um único meio de constatar [a
existência da faculdade mediúnica em alguém]: a experimentação.” Ou seja, só poderemos saber que uma pessoa é
médium observando que efetivamente é
capaz de servir de intermediário aos Espíritos desencarnados.
Isso
naturalmente remete à importante questão do desenvolvimento
da mediunidade. Por sua importância e pelas confusões e equívocos a que se
tem prestado, merece ser abordada numa seção especial.
3. O
desenvolvimento da mediunidade
Uma
primeira observação a ser feita é que se a presença da faculdade mediúnica em
uma pessoa independe de sua condição moral, intelectual e de crença, ninguém poderá
tornar-se médium tão-somente pelo
fato de moralizar-se, ou de estudar, ou de aderir às convicções espíritas. É
evidente que essas atitudes serão de imenso proveito para a criatura, pois a
colocarão em condições de compreender e
utilizar bem a faculdade mediúnica que porventura possua.
É
significativo, a esse respeito, que Kardec tenha alertado já no terceiro
parágrafo da Introdução de O Livro dos
Médiuns que muito se enganaria aquele que “supusesse encontrar nesta obra
uma receita universal e infalível para formar médiuns.” Lança mão, a seguir, de
uma comparação muito clara e objetiva, que esclarece o
assunto à saciedade (os destaques são nossos):
Se bem
que cada um traga em si o gérmen das qualidades necessárias para se tornar
médium, tais qualidades existem em graus muito diferentes e o seu
desenvolvimento depende de causas que a ninguém
é dado conseguir se verifiquem à vontade. As regras da poesia, da pintura e da
música não fazem que se tornem poetas, pintores, ou músicos os que não têm o
gênio de algumas dessas artes. Apenas guiam os que as cultivam no emprego de
suas faculdades naturais. O mesmo
sucede com o nosso trabalho. Seu objetivo consiste em indicar os meios de
desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto
quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigir-lhe o
emprego de modo útil, quando ela exista.
O
caráter espontâneo da faculdade mediúnica é ainda destacado no parágrafo 208 de
O Livro dos Médiuns (o destaque é
nosso):
Se os
rudimentos da faculdade [mediúnica] não existem, nada fará que apareçam [...].
No
capítulo intitulado “Manifestações dos Espíritos” de Obras Póstumas (parágrafo
6, no 34) encontramos esta densa passagem (destaque
nosso):
O
desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da natureza mais ou menos expansível
do perispírito do médium e da maior ou menor facilidade da sua assimilação pelo
dos Espíritos; depende, portanto, do organismo e pode ser desenvolvida quando exista o princípio; não pode, porém, ser
adquirida quando o princípio não exista.
E
no parágrafo 198 de O Livro dos Médiuns,
que trata da diversidade das faculdades mediúnicas, lemos ainda:
Em erro
grave incorre quem queira forçar a todo custo o desenvolvimento de uma
faculdade que não possua. Deve a pessoa cultivar todas aquelas de que reconheça
possuir o gérmen. Procurar à força ter as outras é, antes de tudo, perder
tempo, e, em segundo lugar, perder talvez, enfraquecer com certeza, as de que
seja dotado.
Encerrando
esse parágrafo, Kardec transcreve comunicação mediúnica de Sócrates sobre o
desenvolvimento da mediunidade, que contém grave advertência:
Quando
existe o princípio, o gérmen de uma faculdade, esta se manifesta sempre por
sinais inequívocos. Limitando-se à sua especialidade, pode o médium tornar-se
excelente e obter grandes e belas coisas; ocupando-se de tudo, nada de bom
obterá. Notai, de passagem, que o desejo de ampliar indefinidamente o âmbito de
suas faculdades é uma pretensão orgulhosa, que os Espíritos nuncam deixam impune. Os bons abandonam o
presunçoso, que se torna então joguete dos mentirosos. Infelizmente, não é raro
verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por
amor-próprio ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os
tornarem notados. Essa pretensão lhes tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros.
Apenas
como exemplo de opinião de um outro autor, corroborativa
da de Allan Kardec, vejamos como Emmanuel responde à questão 384 de seu livro O Consolador, questão essa que versa
especificamente sobre o tema que estamos focalizando:
Dever-se-á
provocar o desenvolvimento da mediunidade?
¾ A mediunidade não deve ser
fruto de precipitação nesse ou naquele setor
da atividade doutrinária, porquanto, em tal assunto, toda a espontaneidade é indispensável,
considerando-se que as tarefas mediúnicas são dirigidas pelos mentores do plano
espiritual.
Logo
em seguida, em resposta à questão 386, o conceituado Espírito reitera:
Ninguém
deverá forçar o desenvolvimento dessa ou daqula
faculdade, porque, nesse terreno, toda a espontaneidade é necessária;
observando-se contudo, a floração mediúnica espontânea,
nas expressões mais simples, deve-se aceitar o evento com as melhores
disposições de trabalho e boa-vontade [...].[5]
Precisamos
portanto estar vigilantes quanto à opinião, infelizmente tão
comum no meio espírita, de que as pessoas que aparecem nas casas
espíritas devem, cedo ou tarde, ser encaminhadas às chamadas “sessões de
desenvolvimento mediúnico”. São dois os motivos mais freqüentemente alegados
para esse tipo de recomendação: 1) o empenho e dedicação com que alguém se
interesse pelo Espiritismo, sugerindo, segundo julgam, que tem “todas as
condições” para exercer a mediunidade; 2) os desequilíbrios variados de saúde
ou de comportamento que apresente, notadamente quando venham desafiando a
perícia dos médicos.
Ora,
no primeiro caso dever-se-ia ponderar que as boas disposições da pessoa deverão
ser aproveitadas antes de mais nada em seu
aperfeiçoamento intelectual e moral, e, em se tratando de sua colaboração nas
atividades do centro espírita, naquele setor ao qual mais se ajuste por sua
formação profissional, seus interesses e disponibilidades, quais sejam a
condução de estudos, a evangelização infanto-juvenil, a administração, a
biblioteca, as visitas fraternas, a costura de enxovais, a faxina, a
distribuição de alimentos, a acolhida aos novos freqüentadores etc., ou os
trabalhos mediúnicos, se os sinais de mediunidade se apresentarem de forma
espontânea.
No
segundo caso, que é o mais freqüente, seria preciso compreender que o mero fato de alguém encontrar-se
desequilibrado significa que não pode ser inserido no grupo mediúnico, sob
o risco de comprometer o seu bom funcionamento. A mediunidade em si é uma faculdade neutra, que não tem qualquer conexão com os
desajustes físicos, mentais e espirituais da criatura. Estes surgem por motivos
específicos, e requerem o tratamento médico, psicológico ou
espírita adequado ao caso. Somente após seu retorno à normalidade é que
a pessoa poderá participar, como médium, dos trabalhos mediúnicos, se a
faculdade surgir espontaneamente. O exercício da mediunidade não é recomendável
na presença de determinadas enfermidades físicas, como por exemplo, nas doenças
contagiosas, ou onde o equilíbrio orgânico esteja “por um fio” e a atividade
mediúnica envolva situações que emocionem muito o médium. No caso dos
desequilíbrios mentais e espirituais, o exercício mediúnico não pode nunca ser
iniciado, ou continuado. Um médium nessas condições não poderá contribuir
positivamente, além de gerar dificuldades para o grupo, facilitando mesmo a
atuação de Espíritos interessados na instalação da desarmonia, dos melindres,
das suspeitas, do enregelamento das relações entre os membros.
O
desenvolvimento mediúnico a ser promovido nos centros espíritas não deve nunca
ser entendido como o aprendizado de técnicas e métodos para fazer surgir a mediunidade, pois que não os há nem pode haver, mas
exclusivamente como o aprimoramento e direcionamento útil e equilibrado das
faculdades surgidas de forma natural, o que pressupõe o aperfeiçoamento
integral do médium, por meio do estudo sério e de seus esforços incessantes
para amoldar suas ações às diretrizes evangélicas.
Ressaltemos,
outrossim, que os núcleos espíritas não deverão iniciar qualquer trabalho mediúco, quer de desenvolvimento (no sentido correto do
termo), quer, menos ainda, de assistência aos Espíritos enfermos, se não
estiverem seguros de que dispõem de colaboradores suficientemente preparados,
por seus conhecimentos doutrinários, por seu equilíbrio psicológico e por sua
conduta cristã, que disponham de tempo para encetar com regularidade tão
delicada tarefa.
Resumindo
o que foi visto nesta seção:
· A mediunidade é uma faculdade natural, que surge espontaneamente.
· Não se deve procurar
desenvolvê-la enquanto não aflorar por si só.
· O desenvolvimento da
mediunidade deve ser entendido unicamente como a sua educação, o seu
aprimoramento, a sua disciplina, o seu direcionamento útil para o bem.
· A mediunidade não é a causa
primária dos desequilíbrios orgânicos e psicológicos.
· O exercício da mediunidade
não deve ser colocado como a culminação obrigatória das atividades do
cooperador da casa espírita.
4. Os
mecanismos da mediunidade
Na
presente seção procuraremos reunir alguns informes sobre os mecanismos da
faculdade mediúnica, ou seja, sobre como se
dá o fenômeno mediúnico. A fonte básica continuará sendo Allan Kardec. Iniciemos com este trecho, já parcialmente transcrito, do capítulo
“Manifestações dos Espíritos” de Obras
Póstumas (§ 6, no 34; o destaque é nosso):
O
fluido perispirítico é o agente de todos os fenômenos espíritas, que só se podem produzir pela ação recíproca dos fluidos que emitem o
médium e o Espírito. O desenvolvimento da faculdade mediúnica depende da
natureza mais ou menos expansível do perispírito do médium e da maior ou menor
facilidade da sua assimilação pelo dos Espíritos.
Esmiuçando
as informações aqui contidas, notamos:
1)
O perispírito desempenha papel de capital importância no processo mediúnico.
2)
Sendo o perispírito “o agente de todos
os fenômenos espíritas”, e estes só podendo produzir-se pela ação recíproca dos fluidos que emitem o
médium e o Espírito, temos como regra sem exceções que, ocorrendo um fenômeno
de comunicação com o mundo espiritual, necessariamente
haverá a participação de um médium. Em alguns casos, como em certas
manifestações de efeitos físicos, não se nota a presença do médium, mas podemos
estar certos de que haverá alguém, em algum lugar, servindo de médium, ainda
mesmo que este não esteja consciente do papel que desempenha. Também percebemos
que serão vãos os esforços de certos pesquisadores que, desprezando a
riquíssima contribuição do Espiritismo para o estudo daquilo que
(impropriamente) denominam “paranormalidade”, tentam
detectar o Espírito unicamente por meio de aparelhos. Se algum instrumento
chegar a registrar um espírito, é porque houve a participação oculta de algum
médium. Neste caso, seria mais confiável analisar a manifestação diretamente,
sem o recurso indireto de instrumentos, que sempre constituem fonte adicional de
incertezas.[6]
3)
A presença da faculdade mediúnica em alguém liga-se à
possibilidade de seu perispírito “expandir-se”. Veremos logo mais que essa
“expansão” do corpo espiritual pode ser entendida como a sua parcial
desvinculação do corpo físico.
4)
A efetivação da comunicação exige, além da “expansão” do perispírito do médium,
a assimilação deste com o perispírito do Espírito comunicante, ou seja, tem de
haver sintonia entre ambos. Esse fato
importante, de que o médium em geral não é capaz de comunicar-se indiscriminadamente
com todos os Espíritos, é exposto em Obras
Póstumas imediatamente após o trecho que acabamos de transcrever (§ 6, no
35; os grifos são nossos):
As
relações entre os Espíritos e os médiuns se estabelecem por meio dos
respectivos perispíritos, dependendo a facilidade
dessas relações do grau de afinidade
existente entre os dois fluidos. Alguns há que se combinam facilmente, enquanto
outros se repelem, donde se segue que não basta ser médium para que uma pessoa se
comunique indistintamente com todos os Espíritos. Há médiuns que só com
certos Espíritos podem comunicar-se ou com Espíritos de certas categorias, e
outros que não o podem a não ser pela transmissão do pensamento, sem qualquer
manifestação exterior.
No
exame do assunto do item 3, podemos colher subsídios em André Luiz, o autor
espiritual que tanto tem contribuído para a extensão de nosso conhecimento
científico acerca da mediunidade. Em sua obra Evolução em Dois Mundos, ao analisar a fase evolutiva em que se
elaborava a faculdade de desprendimento do veículo perispiritual
durante o sono (capítulo 17, item “Mediunidade espontânea”), adianta esta
valiosa informação (grifamos):
Consolidadas
semelhantes relações com o Plano Espiritual [...], começaram na Terra os
movimentos de mediunidade espontânea, porquanto os encarnados que demonstrassem
capacidades mediúnicas mais evidentes, pela
comunhão menos estreita entre as células do corpo físico e do corpo espiritual,
em certas regiões do campo somático, passaram das observações durante o sono
às da vigília, a princípio fragmentárias, mas acentuáveis com o tempo [...].
Vemos,
assim, que o respeitado cientista deixa entrever a correlação íntima entre a
possibilidade de contato com a realidade espiritual durante a vigília
(mediunidade) e um certo “afrouxamento” das ligações entre as células do
perispírito e as suas correspondentes do corpo material. Prosseguindo, André
Luiz explicita mais essa correlação:
Quanto
menos densos os elos de ligação entre os implementos físicos
e espirituais, nos órgãos da visão, mais amplas as possibilidades na
clarividência, prevalecendo as mesmas normas para a clariaudiência
e modalidades outras, no intercâmbio entre as duas esferas [...].
Refletindo
um pouco sobre as assertivas de André Luiz, verificamos, inicialmente, que não
conflitam com a explicação dada por Kardec, em termos da capacidade de expansão
do perispírito do médium. Há, pelo contrário, até um reforço, já que a noção de
“expansão” é aqui suficientemente abrangente e flexível para permitir
ulteriores elaborações e detalhamentos, dentro da natureza eminentemente
progressiva do Espiritismo. Podemos compreender, deste modo, a
“expansibilidade” do perispírito como a sua faculdade de desvinculação parcial
e temporária do corpo físico, passando, nesse estado especial, a partilhar da
realidade do mundo espiritual para nela colher impressões diversas, sem no
entanto perder a possibilidade de atuação sobre o corpo denso.
É
fundamental deixar claro que o que acabamos de expor não corrobora de modo algum a idéia popular de que no processo
mediúnico o Espírito do médium “sai” e “dá lugar” ao Espírito comunicante,
que passaria então a servir-se diretamente
do corpo do médium. Os Instrutores Espirituais já esclareceram a Kardec, no
importante capítulo “Do papel do médium nas comunicações espíritas” de O Livro dos Médiuns que essa idéia não
corresponde à realidade. A mensagem sempre passa pelo Espírito do médium, mesmo
quando ele não guarda disso a consciência ao despertar do transe. Vejamos o que
dizem no item sexto do parágrafo 223:
O
Espírito que se comunica por um médium transmite diretamente o seu pensamento,
ou este tem por intermediário o Espírito do médium?
“É o
Espírito do médium que é o intérprete, porque está ligado ao corpo que serve
para falar e por ser necessária uma cadeia entre vós e os Espíritos que se
comunicam, como é preciso um fio elétrico para comunicar à grande distância uma
notícia e, na extremidade do fio, uma pessoa inteligente que a receba e
transmita.”
Compreendemos
então que, em última instância, o comando do veículo físico só pode ser feito
pelo seu próprio “dono”. Poderíamos dizer que o corpo material é feito “sob
medida” para cada Espírito, e que não “serve” para nenhum outro. O Espírito
estranho não tem como agir diretamente sobre as células materiais formadas sob
a influência de outro Espírito e para o seu próprio uso.
É interressante notar que nas questões seguintes à transcrita
os Espíritos frisam ¾ mesmo enfrentando
uma oposição inicial de Kardec ¾ que essa
é uma regra absoluta, sem exceções, nem mesmo na mediunidade dita
“mecânica”, ou ainda nos casos de efeitos físicos onde uma mensagem inteligente
é transmitida (tiptologia, escrita por meio de
pranchetas etc). Vemos, na questão 10 do referido parágrafo, que os Espíritos
expressam indiretamente sua desaprovação a esse modo de denominar a mediunidade
na qual o médium não guarda consciência do conteúdo da cominicação:
o médium jamais atua como máquina, mecanicamente.
Resumindo
o conteúdo desta seção:
· O perispírito desempenha
papel essecial em todos os processos mediúnicos.
· A faculdade mediúnica
liga-se à possibilidade de o perispírito desvincular-se parcialmente do corpo
físico durante a vigília.
· A comunicação não se efetiva
sem que haja sintonia entre os perispíritos do médium
e do Espírito.
·
A comunicação espiritual, ainda que de efeitos físicos, sempre passa
pelo Espírito do médium.
5. As
modalidades mediúnicas
Um
aspecto importante dos esclarecimentos de André Luiz é que permitem compreender
não somente como se dá o fenômeno mediúnico, mas também o porquê da existência
de diferentes modalidades de mediunidade. Observamos, pelos trechos citados,
que a faculdade mediúnica será deste ou daquele tipo conforme a região do
organismo em que as células do perispírito apresentem maiores possibilidades de
desvinculação das que lhe correspondem no corpo físico. Desse modo, segundo o
exemplo dado, se for nos órgãos da visão que ocorre a maior liberdade das
células do perispírito, a mediunidade assumirá a forma de vidência; se nos
órgãos da audição, a de audiência; se nos da fala, a de psicofonia,
e assim por diante.
Devemos
notar, no entanto, que os órgãos a que se refere André Luiz são, conforme se
depreende de outras passagens de sua obra, não tanto os órgãos periféricos ¾ olhos, ouvidos, mãos etc. ¾, mas fundamentalmente as regiões do cérebro
responsáveis por seu comando. De fato, a ciência mostrou que há no cérebro
grupos de neurônios (células nervosas) mais ou menos especializados para as
diversas faculdades sensoriais e motoras. No caso da visão, por exemplo, tais
neurônios recebem, através do nervo óptico, os impulsos elétricos gerados na
retina do olho, sinais esses que a alma interpreta como imagens. O mesmo se dá,
mutatis mutandis, com os demais
sentidos. No caso das funções motoras, ao comando da alma determinados centros
cerebrais enviam, através dos diferentes nervos, impulsos elétricos aos
músculos, resultando daí os movimentos corporais.
Kardec
dividiu os médiuns em duas grandes categorias: os de efeitos físicos e os de efeitos
intelectuais. Os primeiros são “aqueles que têm o poder de provocar efeitos
materiais, ou manifestações ostensivas”; os segundos, “os que são mais
especialmente próprios a receber e a transmitir comunicações inteligentes” (O Livro dos Médiuns, parágrafo 187).
Para fins didáticos, é conveniente subdividir a categoria de efeitos
inteligentes em dois grupos: efeitos
sensoriais (percepção da realidade espiritual na forma de uma impressão dos
sentidos) e efeitos intelectuais
propriamente ditos (transmissão de uma mensagem inteligente pela palavra
escrita, oral, por gestos etc.).
Apresentaremos
agora um quadro sinótico com os principais tipos de fenômenos mediúnicos,
associados às diversas modalidades mediúnicas. Trata-se de uma adaptação do que
foi elaborado por Jayme Cerviño em seu livro Além do Inconsciente, reunindo apenas as
modalidades mais importantes. Nesse interessante e original livro, o autor
infere, a partir de estudos clássicos da psicologia experimental e da neurofisiologia, bem como de investigações
sobre os fenômenos espíritas, quais regiões do encéfalo estariam associadas às
diferentes categorias de fenômenos espíritas.[7]
intuição
Efeitos estritamente
psicografia
intelectuais psicofonia
(córtex
frontal) psicopraxia
EFEITOS
INTELECTUAIS
(mediunidades de
expressão cortical) vidência
Efeitos sensoriais audiência
(córtex extrafrontal) sensitividade
sons
Telergia luzes
movimentos
curas
EFEITOS FÍSICOS
(mediunidades de Teleplastia materializações
expressão subcortical)
Somatização transfiguração
estigmatização
6. O exercício da
mediunidade
Na
seção 2 deste trabalho vimos que se deve fazer uma distinção clara entre a
mediunidade, enquanto faculdade, e o seu uso ou exercício. Se a faculdade em si
é neutra, o mesmo não vale para o seu uso, que pode ser bom ou mau, dependendo
da condição moral do médium.
Na
Introdução de O Livro dos Médiuns
Kardec destaca entre os objetivos da obra a orientação para que a mediunidade
seja empregada de modo útil. Um requisito essencial para isso é a compreensão
de sua natureza e mecanismos, no que o Espiritismo tem contribuído de forma
decisiva. Respeitando a liberdade humana, ele não poderia prescrever normas de
conduta para os médiuns de maneira cega, impositiva,
sem um esclarecimento racional da sua necessidade. Éfacil
constatar a justeza da afirmação de Kardec, nessa mesma Introdução, de que “as
dificuldades e os desenganos com que muitos topam na prática do Espiritismo se
originam na ignorância dos princípios desta ciência”.
A
preocupação com a compreensão e o exercício corretos da mediunidade vem sendo
partilhada pelos espíritas sérios, que se conscientizaram da necessidade do
crescimento espiritual do médium para que sua faculdade seja bem empregada.
Muitos dos grandes autores espíritas dos dois planos da vida nos têm legado
estudos e lições preciosas sobre a mediunidade e seu objetivo. Procuraremos, no
que se vai seguir, compilar alguns desses ensinamentos.
Comecemos,
no entanto, com O Livro dos Médiuns,
em cujo parágrafo 226 Kardec pergunta aos Espíritos (no 3):
Os
médiuns que fazem mau uso de suas faculdades, que não
se servem delas para o bem, ou que não as aproveitam para se instruírem,
sofrerão as conseqüências dessa falta?
“Se
delas fizerem mau uso, serão punidos duplamente,
porque têm um meio a mais de se esclarecerem e não o aproveitam. Aquele que vê
claro e tropeça é mais censurável do que o cego que cai no fosso.”
A
questão da responsabilidade moral do uso da mediunidade é semelhante à das
demais faculdades do homem. Aquele que emprega mal a inteligência, a palavra,
os dotes artísticos ou a força física arcará com as conseqüências desse
emprego, devendo expiar e reparar as faltas cometidas. No caso da mediunidade
há um agravante, conforme se salienta na resposta dada, pois ela é poderoso
recurso iluminativo.
É
por meio da mediunidade que nos certificamos de nossa natureza imortal, fato de
suma importância, em torno do qual gira todo o Espiritismo e sua doutrina
moral. É ela que nos desvenda a vida futura, possibilitando-nos conhecer de
modo abrangente os efeitos de nossas ações. Ajuizaremos então com mais acerto
sobre o que nos convém ou não fazer, com vistas à nossa felicidade integral.
Para
nós, os encarnados, a mediunidade constitui advertência contra o equívoco de
tudo considerarmos do ponto de vista de nossos interesses materiais e
imediatos, incentivando-nos a lutar contra o egoísmo, o embrutecimento dos
prazeres, a estagnação do conhecimento.
Para
os desencarnados sofredores, revoltados ou aturdidos, representa muitas vezes a
via preferencial de despertamento,
possibilitando-lhes retomar o progresso espiritual. A maioria das instituições
espíritas em nosso país hoje em dia centraliza sua atuação mediúnica
precisamente nessa tarefa, tão louvável pelos benefícios que espalha, mas
também tão delicada em sua condução, exigindo muito preparo da equipe, quer no
que concerne ao conhecimento doutrinário e à disciplina, quer quanto ao
espírito fraterno e à devoção incondicional ao bem do próximo.
A
esse respeito adverte Emmanuel no capítulo “Examinando a mediunidade” do livro Encontro Marcado:
O
exercício da mediunidade nas tarefas espíritas exige larga
disciplina mental, moral e física, assim como grande equilíbrio das
emoções.
Na
obra Educação e Vivência, lição
“Mediunidade e problemas”, o Espírito Camilo tece as seguintes considerações,
ainda dentro desse tópico:
Tristemente,
porém, muitas dessas criaturas que se sabem ou se imaginam médiuns não são
bafejadas pelos recursos de amadurecido estudo, a fim de que compreendam o que
é que se passa nesse vasto território dos fenômenos psíquicos.
Seria
de esperar que os indivíduos que se embrenham pelos bosques das percepções
mediúnicas fossem caindo em si, aprendendo que todos terão que dar conta desses
talentos formidáveis que lhes são concedidos, nas experiências terrenas, na
condição de empréstimo, proporcionando liberdade e ventura íntimas, logrando
evadir-se dos tormentosos episódios do pretérito culposo ou negligente.
E
em Cintilação das Estrelas (capítulo
32) esse lúcido Espírito prossegue no assunto:
Em
mediunidade é importante que o médium se aplique em melhorar-se a si próprio,
ampliando as percepções, iluminando-se a cada hora, nas lutas que deve
enfrentar, na pauta do cotidiano.
O desenvolvimento
da mediunidade marcha ladeando o desenvolvimento do médium. Quanto melhor o
indivíduo, maior a sua fulgência mediúnica no bem.
Aprimore-se
o homem para que se lhe ampliem as posições de sensibilidade mediúnica.
Têm-se
infelizmente observado muitos agrupamentos mediúnicos
descuidados quanto às superiores finalidades da mediunidade, bem como quanto às
diretrizes doutrinárias que devem guiar sua prática. Não raro desenvolvem suas
atividades de forma ritualística, tratando os médiuns como simples máquinas de
comunicação. No momento do intercâmbio, os trabalhadores assumem posturas
formais, como que denotando concentração e devoção ao bem, mas que nem sempre
se fazem acompanhar das atitudes íntimas correspondentes. Manoel Philomeno de Miranda comentou esse tópico no capítulo
intitulado “Mediunidade e viciação”, do livro Sementeira da Fraternidade (p. 123):
O
médium é filtro por cuja mente transitam as notícias da vida além-da-vida.
Nesse
sentido, consideramos a concentração mental de modo diverso dos que a comparam
a interruptor de fácil manejo que, acionado, oferece passagem à energia
comunicante, sem mais cuidados... A concentração, por isso mesmo, deve ser um
estado habitual da mente em Cristo, e não uma situação passageira junto ao
Cristo.
Já
analisamos na seção 3 a situação na qual o aparecimento da faculdade mediúnica
se dá juntamente com desequilíbrios físico-espirituais variados, destacando o
erro dos que consideram tais distúrbios como uma conseqüência da mediunidade em
si. Em Educação e Vivência (p. 111),
Camilo enfoca outro ângulo dessa questão:
A
decantada “mediunidade de provas” não passa de episódio no qual alguém em provas e sérias expiações recebeu da Divina
Misericórdia as excelênicas da sensibilidade
mediúnica, através de cujas portas será chamado ou convocado à assunção de
responsabilidades, bem como ao cumprimento dos deveres para com Deus, através
do próximo.
Dessa
forma a mediunidade, mesmo quando se apresente assinalada por impertinentes
padecimentos dos médiuns, representa para eles a mão da Celeste Providência
evitando dores maiores e tormentos mais acerbos.
A
origem do nosso sofrimento, da nossa aflição, não reside na mediunidade, mas a
bagagem de desacertos que ainda trazemos, acumulada nesta e em vidas
pregressas. É por isso que nossos recursos mediúnicos, neutros em si memos, amiúde ainda se ligam aos mundos de sombra. Mal
empregada, a mediunidade significará o cultivo da ignorância, a disseminação da
dúvida e da mentira, o insuflamento do egoísmo e do
orgulho, da vaidade e do personalismo, o verbo e o texto degradantes, a
manipulação de forças mentais deletérias, a porta aberta às obsessões.
No
capítulo 39 do livro Sementeira da
Fraternidade, Vianna de Carvalho descreve a mediunidade como “canal cósmico
por onde transitam seguras as consolações e esperanças
para o atribulado espírito humano” (p. 179), destacando outro aspecto da
mediunidade: o consolo que prodigaliza ao homem em sua vida de incertezas e de
dores. Que de mais belo existe do que saber que o abismo que
se imagina existir entre nós e os entes queridos que já partiram não é
intransponível; que os sofrimentos que não conseguimos evitar têm causas
justas ligadas ao nosso passado!...
Dádiva
com que a misericórdia divina nos favorece, informando-nos de nossa natureza de
seres imortais, a mediunidade bem empregada reveste as formas de esclarecimento
acerca da vida além-túmulo, de consolo para os que perderam a esperança, de
advertência salvadora para os equivocados, de amparo para os que cambaleiam, de
recursos terapêuticos para os que enfermaram, de despertamento
para os sofredores e os trânsfugas do dever que já cruzaram a aduana da morte.
Daí a necessidade de desenvolvermos esse abençoado talento, nos trabalhos da
caridade, nos exercícios constantes de benevolência para com todos, indulgência
para com as imperfeições dos outros, de perdão das ofensas, conforme a questão
886 de O Livro dos Espíritos.
Reconheçamos, acima de tudo, que mais
importante do que sermos bons médiuns, no que toca à faculdade, é sermos
médiuns bons, a serviço de Jesus.
Referências
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Fraternidade. (Ditado por Espíritos diversos a Divaldo
Pereira Franco.) 3a
ed., Salvador, Livraria Espírita Alvorada Editora, 1979. Capítulo 39, pp.
177-81.
[1] 1859, p. 33; L’Obsession, p. 87. Ver também O Livro dos Médiuns, parágrafo 159.
[2] Nesta e demais citações e O Livro dos Médiuns e de Obras Póstumas utilizamos os textos originais, aproveitando em grande parte as traduções publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
[3] Vocabulário Espírita, item ‘Médium’. Ver também O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 24, § 12.
[4] Outras referências sobre a origem orgânica da mediunidade podem ser encontradas, por exemplo, em O Livro dos Espíritos, Introdução, item 4; O Livro dos Médiuns, parágrafo 174; Revue Spirite, 1859, “Écueils des médiums” (p. 33; L’Obsession, p. 88); Estudos Espíritas, de Joanna de Ângelis, capítulo “Mediunidade”.
[5] Todos os destaques são nossos. Ver também, sobre esse ponto, André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, cap. 1, pp. 18-9, e Yvonne Pereira, Devassando o Invisível, cap. 10, p. 216.
[6] Esse é um ponto que merece reflexão, em vista da ampla divulgação em nossos dias da chamada “transcomunicação instrumental” (TCI). Em artigos anteriores (Chibeni 1984, 1988 e 1994) analisamos, à luz da moderna filosofia da ciência, a questão da cientificidade do Espiritismo e de sistemas alternativos, procurando mostrar que, do mesmo modo como entendia Kardec, o Espiritismo é uma disciplina genuinamente científica, enquanto que esses sistemas não. Contrariamente ao que em geral assumem os proponentes da TCI, o mero emprego de aparelhos não assegura a cientificidade de nenhuma disciplina; eles só são usados nas ciências ordinárias porque o seu objeto de estudo ¾ a matéria ¾ presta-se à análise quantitativa, e muitos de seus aspectos só podem ser observados com aparelhos. Já o objeto de estudo do Espiritismo ¾ o elemento espiritual ¾ não é passivel de análise quantitativa, como tão apropriadamente fez notar Kardec em várias de suas obras.
[7] Note-se que, como toda classificação, esta não é absoluta, pois o estabelecimento de fronteiras nítidas entre diferentes modalidades mediúnicas não é possível. Lembremos ainda que o encéfalo é a parte do sistema nervoso contida na caixa craniana; o córtex cerebral corresponde à parte mais externa desse órgão, e coordena a inteligência, os sentidos, os reflexos condicionados ou adquiridos; o subcórtex, que inclui vários órgãos da base do encéfalo ¾ tálamo, hipotálamo, cerebelo ¾ é a sede dos reflexos incondicionados ou inatos: instintos, atividades fisiológicas, emoções.