Publicado em Reformador,
fevereiro de 1999, pp. 53-54, 61-63 e março de 1999, pp. 92-95.
Sinopse dos principais fatos referentes
às origens do Espiritismo
SILVIO SENO
CHIBENI [1]
1. Introdução
Neste
trabalho procuraremos reunir alguns dados importantes da história do
Espiritismo, especialmente os referentes a Allan Kardec e ao Espiritismo
nascente. Nossa fonte básica será a obra Allan
Kardec, em três volumes, da autoria de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen,
dada a público pela Federação Espírita Brasileira em 1979/80. Qualquer
estudioso do Espiritismo reconhecerá prontamente que ela representa o mais
completo e rigoroso estudo já publicado sobre a vida e a obra de Kardec. Os
volumes 2 e 3 contêm ainda análises e comentários de grande justeza e
profundidade sobre muitos tópicos referentes à Doutrina e ao movimento
espíritas.
Os três
volumes dessa obra apresentam uma massa de informações bastante densa. Dispõem
de índices e antroponímicos e analíticos, mas não remissivos. Nos dois últimos
volumes, os capítulos são de amplas proporções, contendo muitas seções. Os
autores optaram, com razões ponderáveis, por não fazer uma apresentação
cronológica dos fatos. Tudo isso torna um tanto difícil a localização rápida de
determinados assuntos. Por tais motivos, julgamos útil compilar aqui, de forma
mais simples e direta, alguns dos
acontecimentos mais importantes. Fomos motivados por nossa experiência pessoal,
de muitas vezes querermos citar datas e lugares precisos e não conseguirmos
encontrar de pronto as referências. Também pode ser de alguma utilidade dispor
de um painel sucinto dos fatos, que permita sua visualização global.
Naturalmente,
sabemos que o que mais importa não são os nomes, as datas e os lugares, mas a
sua significação histórica, científica e filosófica. O pesquisador cuidadoso
não poderá dispensar a respeitável obra de Thiesen e Wantuil. Também deve-se
lembrar que a segunda parte das Obras
Póstumas de Allan Kardec consiste de textos de enorme relevância para a
história do Espiritismo, repletos, como não poderia deixar de ser, de preciosas
considerações doutrinárias. O mesmo vale para os volumes da Revue Spirite editados por Kardec.
Há
algumas outras fontes sobre o Espiritismo e sua história, que podem ser
consultadas, embora nem de longe se aproximem, em abrangência e precisão, da
que nos legaram Thiesen e Wantuil. Entre elas encontram-se:
* Moreil, André. La vie et l’Œuvre d’Allan Kardec. Paris, Vermet, sem data.[2]
* Sausse,
Henri. Biographie d’Allan Kardec. 4a
ed., Paris, Éditions Jean Meyer, 1927. A Federação Espírita Brasileira faz figurar uma tradução dessa biografia
em sua edição de O que é o Espiritismo,
sem indicação do tradutor.[3]
Para
facilidade de referência, adotaremos as seguintes abreviaturas:
* AK I, AK II e AK III ¾ respectivamente volumes I, II e III
da obra Allan Kardec.
* OP ¾ Obras
Póstumas
* Revue ¾ Revue
Spirite
* SPES ¾ Société Parisienne des Études
Spirites
* FEB ¾ Federação Espírita Brasileira
Os números
que aparecerão diante desses símbolos referem-se a páginas das obras, salvo
indicação em contrário. Utilizamos a 1a edição de Allan Kardec e a 18a
edição da tradução febiana de Obras
Póstumas, traduzida por Guillon Ribeiro (o texto em francês, em versão fiel
à edição original de Leymarie, está hoje disponível na Internet, na “página” do
Centre d'Études Spirites Léon Denis (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/).
2. Hippolyte-Léon Denizard Rivail
1804 -
(3/10) - Nascimento de Hippolyte-Léon Denizard Rivail, o futuro Allan Kardec,
em Lyon, a segunda maior cidade francesa depois de Paris. Seus pais foram
Jean-Baptiste Antoine Rivail, homem de leis, e Jeanne Louise Duhamel,
residentes à Rue Sale, 76; essa casa foi demolida ainda em meados do século
XIX. (AK I 29)
1815 -
Rivail segue para o Instituto de Johann Heinrich Pestalozzi para continuar seus
estudos. O Instituto ficava na cidade de Yverdon, Suíça, e funcionava em regime
de internato. Os alunos recebiam ali educação integral esmerada, segundo
inovador método pedagógico do famoso professor, baseado na convicção de que o
amor é o eterno fundamento da educação. (AK I caps. 2 a 11
e 15)
1822 -
Rivail deixa Yverdon e instala-se em Paris. Não há segurança completa sobre
essa data. Sabe-se que em janeiro de 1823 já residia à Rue de la Harpe, 117.
Confirma-se também que pelo menos de 1828 a 1831 morou na Rue de Vaugirard, 65.
(AK I ,
caps. 12, 21 e p. 184)
1824 -
Rivail publica o seu primeiro livro didático, o Cours pratique et théorique d’arithmétique, concebido segundo o
método pestalozziano. Foi publicado em Paris na Imprimerie de Pillet Ainé, Rue
Christine, 5. (AK I caps. 14 e 16)
1825 - Rivail abre sua primeira escola, a École de Premier Degrée. (AK I cap. 18)
1826 -
Rivail funda a Institution Rivail, instituto técnico, sito à Rue de Sèvres, 35;
funcionou até 1834. Neste mesmo local existiria depois o Lycée Polymathique,
dirigido também por Rivail, até 1850, quando foi cedido a A. Pilotet. A partir
dessa data o Prof. Rivail não mais exerceria atividades didáticas. (AK I cap. 19 e pp. 131, 145 e 146)
1828 -
Rivail dá a público o “Plan proposé pour l’amélioration de l’éducation
publique”, sugerindo diretrizes para a educação pública, à venda com o autor e
com Dentu (que mais tarde publicaria diversas obras espíritas de Kardec; ver AK I cap. 21 e p. 184).
1831 -
Aparece, da autoria de Rivail, a Grammaire
Française Classique sur un nouveau plan. (AK I cap. 22)
1832 - Casa-se com Amélie-Gabrielle Boudet (1795-1883), que seria sua dedicada companheira e apoio de todos os momentos, até a sua desencarnação. Conhecida mais tarde entre os espíritas como “Madame Allan Kardec”, Amélie-Gabrielle era professora e colaborou com o esposo em suas atividades didáticas. Não tiveram filhos, conforme explicitamente se lê na Revue Spirite de 1862. (AK I cap. 20, III 45)
Rivail e sua esposa foram pessoas dignas, de moralidade inatacável, dedicando-se integralmente aos ideais superiores da cultura, da educação, do bem. Lutaram a favor das causas da liberdade de ensino e da educação para meninas. Rivail ministrou por muitos anos cursos gratuitos para crianças pobres. Além de mestre, foi sempre amigo dos alunos. (AK I cap. 23 a 29)
Do ponto de vista material, o casal Rivail levou vida simples, não raro enfrentando dificuldades econômicas. Na fase espírita, seus parcos recursos seriam empregados na publicação das obras iniciais e em outras despesas referentes ao Espiritismo. Nos anos de maiores limitações, Rivail complementou sua receita com empregos temporários modestos, como o de guarda-livros. (AK I cap. 33)
Há referências seguras de cerca de 21 textos publicados pelo Prof. Rivail, entre livros didáticos e opúsculos diversos referentes à educação. (AK I cap. 37)
Rivail
possuía sólida erudição, conhecendo bastante bem as diversas ciências, a
filosofia e as artes. Traduziu, preferencialmente, obras alemãs para o francês,
e vice-versa. Foi membro de diversas academias culturais, possuindo vários
diplomas. (AK I caps. 22, 30, 35)
Contrariamente
ao que afirmou Henri Sausse, e alguns mantém até hoje, Rivail não foi médico (AK I cap. 31). Também não há evidência
de que tenha sido maçon, sendo mais razoável assumir que não o foi (AK I cap. 32).
3. Das
observações iniciais à primeira edição de O
Livro dos Espíritos
1848 -
Início dos famosos fenômenos espíritas que envolveram a família Fox, em
Hydesville (EUA). A 28 de março verificam-se as primeiras manifestações
físicas; três dias após, estabeleceu-se a primeira comunicação tiptológica. Em
poucos anos, fenômenos semelhantes passaram a chamar a atenção pública, não
somente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Foi a fase das chamadas
“mesas girantes”. (AK II 49-60; ver
também As Mesas Girantes e o Espiritismo,
de Zêus Wantuil, publicado pela FEB.)
1854 - Rivail é informado pelo Sr. Fortier, magnetisador seu conhecido, acerca da ocorrência dos fenômenos das mesas girantes. Embora estranhando-os, não os julgou impossíveis, já que poderiam ter alguma causa física ainda não bem determinada. No entanto, algum tempo depois esse mesmo Sr. Fortier lhe disse que as mesas também “falavam”, isto é, davam sinais de inteligência. A reação agora foi cética: “Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula.” (OP 265; AK II 62)
1855 - No início desse ano, o Sr. Carlotti lhe faz longo relato dos singulares fenômenos. Embora Rivail o conhecesse havia 25 anos, mais uma vez expressa reservas, dado o temperamento exaltado do amigo, tão em oposição ao seu. (OP 266; AK II 124)
1855 - Em maio, Rivail vai, em companhia de
Fortier, à casa da Sra. Roger, sonâmbula, onde conhece o Sr. Pâtier e a Sra.
Plainemaison. Este lhe fala dos fenômenos, mas com seriedade e frieza, o que o
predispõe, finalmente, a observar os fatos. (OP 266)
1855 -
Assim foi que, ainda em maio, a
convite de Pâtier, Rivail assiste a algumas experiências na casa da Sra.
Plainemaison, sita à Rue Grange-Batelière, 18. Rivail impressiona-se com os
fenômenos, declarando que se verificavam em condições “que não deixavam lugar
para qualquer dúvida. [...] Minhas idéias estavam longe de precisar-se, mas
havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia
naquelas aparentes futilidades [...] qualquer coisa de sério, como que a
revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.”(OP 267; AK II 64)
1855 - Numa
dessas reuniões, conhece a família Baudin, então residente à Rue Rochechouart
(a partir de 1856 iria para a Rue Lamartine; ver AK II 64). Convidado pelo Sr. Baudin, passou a freqüentar
assiduamente as sessões semanais que se realizavam em sua casa. Os médiuns eram
as filhas do casal, Caroline e Julie, que no início escreviam com o auxílio de
uma cestinha.[4] De
numerosas e frívolas que eram, sob a influência de Rivail as reuniões passaram
a reservadas e sérias, dedicadas à pesquisa racional e metódica do novo
domínio. “Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia
empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão
controverso do passado e do futuro da Humanidade [...]. Era, em suma, toda uma
revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a
maior circunspeção, e não levianamente; ser positivista e não idealista, para
não me deixar iludir” (OP 267-68; AK II 64). Rivail submetia aos Espíritos
séries de questões visando a elucidar problemas relativos à filosofia, à
psicologia e à natureza do mundo invisível. Um grupo de intelectuais
encarregou-o de analisar e joeirar cerca de 50 cadernos com comunicações
espirituais diversas. (AK II 71, 68 e
125)
1856 -
Nesse ano passou a freqüentar também as reuniões espíritas da casa do Sr.
Roustan, na Rue Tiquetonne, 14. O médium era a Srta. Japhet, sonâmbula. As
anotações de Rivail, provenientes em grande parte das comunicações obtidas
pelas Srtas. Baudin, tomaram as proporções de um livro, embora se saiba que por
volta de abril ainda não estava claro para ele que deveria ser um dia publicado
(OP 276). Depois que isso se tornou
evidente, foi por intermédio da Srta. Japhet que os Espíritos auxiliaram Rivail
a fazer uma revisão completa do texto já elaborado. Era O Livro dos Espíritos. (OP
270, 276 e 277; AK II 72)
1856 - A 30 de abril, pela mediunidade da Srta.
Japhet, Rivail tem a primeira notícia de sua missão, em linguagem bastante
alegórica. Outras se seguiram, de cunho mais positivo. O conjunto dessas
comunicações e, principalmente, os comentários de Rivail indicando sua reação,
constituem leitura obrigatória para todo espírita, por sua beleza e elevada
significação. (OP 277-87; AK II 69 e 72)
1857 - No início desse ano o texto manuscrito de O Livro dos Espíritos está concluído; o
editor, E. Dentu, envia-o à Imprimerie de Beau, em Saint-Germain-en-Laye, que
dista 23 km de Paris, a oeste (AK II
73 e 75). As despesas correm inteiramente por conta de Rivail (AK II 257). O casal Rivail residia então
à Rue des Martyrs, 8, no segundo andar, nos fundos do pátio, onde estava pelo
menos desde março de 1856 (OP 273).
1857 - A 18 de abril, vem à luz a primeira edição
de O Livro dos Espíritos (Le livre des Esprits). Contendo os
princípios da doutrina espírita sobre a natureza dos Espíritos, sua
manifestação e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a
vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e publicado por
ordem de Espíritos Superiores por Allan Kardec. Paris, E. Dentu, livreiro,
Palais Royal, Galerie d’Orléans, 13.[5]
Essa
primeira edição contém 501 questões, distribuídas em 3 partes (176 pp.). Afora
a tábua dos capítulos, há um útil índice remissivo (“Table alphabétique”). Não
há conclusões; apenas um Epílogo, de menos de uma página. As notas de Rivail,
em número de 17, vêm todas no final, ocupando 12 páginas. Ao longo de toda a
primeira parte (“Livre premier. ¾ Doctrine spirite.”) adota-se uma
forma de exposição dupla: na coluna da esquerda, perguntas e respostas; na da
direita, o texto corrido equivalente. É nesta obra que Rivail adota o
pseudônimo de Allan Kardec, nome que teria tido em antiga
encarnação entre os druidas, sacerdotes do povo celta, que ocupou a Gália, a
Grã-Bretanha e a Irlanda (AK II
74-80). No Epílogo, anuncia-se para breve a publicação de um suplemento, contendo novos ensinos. No
entanto, Kardec acaba desistindo da idéia, elaborando, em seu lugar, uma segunda
edição “inteiramente refundida e consideravelmente aumentada”, que viria a
público em março de 1860 (ver seção 6 deste nosso trabalho). Em 1957 Canuto
Abreu publicou edição bilíngüe da primeira edição de O Livro dos Espíritos, sob o título O Primeiro Livro dos Espíritos (São Paulo, Companhia Editora
Ismael).
4. A Revue Spirite
1858 - A 1o de janeiro Kardec lança o primeiro número da Revue Spirite (Revista Espírita), jornal
de estudos psicológicos. Contendo o relato das manifestações materiais ou
inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc., assim como todas as
notícias relativas ao Espiritismo. ¾ O ensino dos Espíritos sobre as
coisas do mundo visível e do mundo invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade
da alma, a natureza do homem e seu porvir. ¾ A história do Espiritismo na
Antigüidade; suas relações com o magnetismo e o sonambulismo; a explicação das
lendas e crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc. Paris; bureau
à Rue des Martyrs, 8.
O
primeiro número, com 36 páginas, foi impresso na Imprimerie de Beau, em
Saint-Germain-en-Laye, a mesma que já imprimira O Livro dos Espíritos; as despesas, como no caso desse livro,
também ficaram por conta e risco de Kardec (AK
III 21-33; II 76). A Revue era de
periodicidade mensal e durante a vida de Kardec funcionou em sua própria
residência, ou seja:
·
1o /1/1858 - Rue des Martyrs, 8.
· 15/7/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne, 59).
·
1/4/1869
- Nessa data estava programada a transferência dos Escritórios e do Expediente
para a Librairie Spirite, Rue de Lille, 7, que também sediaria provisoriamente
a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas; a Redação iria para a Villa Ségur
(Av. de Ségur, 39), casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a
qual se mudaria com a dedicada esposa. (AK III 21-24, 35-37, 118-19; II, pp. 24-25). Kardec desencarnou na véspera.
Era
Kardec quem redigia integralmente a revista e cuidava de toda sua correspondência
e expedição, trabalho hercúleo suficiente para consumir todo o tempo de uma
pessoa ordinária. E isso era apenas uma parte de seus trabalhos, havendo ainda
os livros, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, as centenas de
visitantes anuais, as viagens...[6]
A Revue Spirite constitui rico manancial
doutrinário, pouco explorado pelos espíritas. Os originais franceses,
necessários para pesquisas cuidadosas, são raríssimos em todo o mundo. Em feliz
iniciativa, motivada pela comemoração do 140o aniversário da
fundação da Revue, o Centre d'Études
Spirites Léon Denis, de Thann, França, está inserindo o precioso material em
seu “site” na Internet (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/), à razão de um
fascículo por mês.
Kardec
discorre sobre a idéia da criação da Revue
em OP 293-94. Em suas própria
palavras, ela tornou-se-lhe “poderoso auxiliar” na elaboração da doutrina e na
implantação do movimento espírita (AK
III 22; OP 294).
A partir
da declaração de propósitos do primeiro número da Revista e do exame dos volumes escritos por Kardec (ver também AK III 21-33; II 24-25), podem-se
identificar os seus objetivos principais, entre os quais destacam-se:
1.
Manter
o público atualizado quanto à evolução da ciência espírita;
2.
Alertá-lo
acerca dos excessos de credulidade e ceticismo;
3.
Servir
de meio de comunicação entre as pessoas que compreendem a doutrina “sob seu
verdadeiro ponto de vista moral”;
4.
Veicular
relatos de fenômenos espíritas, psicológicos e antropológicos que contribuam
para a elucidação da natureza espiritual do ser humano;
5.
Fazer
a “apreciação racional” desses fenômenos e examinar-lhes as conseqüências;
6.
Publicar
e analisar criticamente produções mediúnicas selecionadas, obtidas na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas ou enviadas por correspondentes;
7.
Sondar
a opinião dos homens e Espíritos sobre princípios em elaboração;
8.
Examinar,
à luz do Espiritismo, as crenças, lendas e tradições referentes aos Espíritos;
9.
Comentar
artigos de jornais, obras literárias, filosóficas e científicas à luz do
Espiritismo.
Kardec
editou a Revue até o número de abril
de 1869, inclusive. Após a morte de Kardec (31/3/69) ela continuou sendo
publicada, graças ao idealismo da Senhora Allan Kardec, de Pierre-Gaëtan
Leymarie e de Jean Meyer, principalmente (AK
III 153-57; Reformador, 09/1990, p.
286). A partir de 1913, aditou-se ao título da revista o artigo ‘la’ (‘a’), a qual ficou, desde então ‘La Revue
Spirite’ (AK III 32 e 47).
Em
lamentável decisão, a publicação foi extinta em 1976 por André Dumas, junto com
a Union Spirite Française,[7]
para dar lugar a Renaître 2000 e a
Union des Sociétés Francophones pour l’Investigation Psychique et l’Étude de
la Survivance (USFIPES), ambas de cunho não-espírita. Sob a lúcida e firme
direção de Francisco Thiesen, a FEB envidou esforços para salvá-la em 1977, não
obtendo sucesso (AK III 45-57).
Felizmente, em 11 de maio de 1989 a Union Spirite Française et Francophone, com
sede em Tours, conseguiu judicialmente recuperar o título, retomando a
publicação da Revue, com
periodicidade trimestral.[8]
5. A Société
Parisienne des Études Spirites
1857 - Por volta de outubro desse ano iniciaram-se reuniões espíritas na residência do casal Allan Kardec, à Rue des Martyrs, 8. Aconteciam às terças-feiras à noite e o médium principal era a Srta. Ermance Dufaux. Com o número crescente de freqüentadores, fez-se indispensável encontrar um local mais amplo. A solução encontrada foi alugar uma sala, cotizando-se as despesas entre as pessoas. (OP 294-95; AK III 34)
1858 - A 1o de abril é
fundada legalmente a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, ou, em francês,
Société Parisienne des Études Spirites (SPES), cujo título Kardec
freqüentemente abreviava para ‘Societé Spirite de Paris’, ‘Societé des Études
Spirites’, ou mesmo ‘Societé de Paris’.
Foi nas reuniões semanais da Société que boa parte das atividades mediúnicas e de estudo supervisionadas por Kardec se desenvolveram. As portas da SPES não eram abertas ao público, conquanto houvesse “reuniões gerais” em que visitantes apresentados por membros da Société podiam ser admitidos; essas reuniões se alternavam, semanalmente, com as “reuniões particulares”, às quais somente os sócios tinham acesso. Isso se compreende perfeitamente, dados os objetivos das reuniões, ligados essencialmente à pesquisa teórica e experimental dos fenômenos. A Société era, assim como a Revue, um terreno de elaboração da doutrina espírita. (OP 294-95; AK III 34-44; II 36-37)
Durante
a vida de Kardec, a SPES esteve em três endereços (OP 295; AK III 35-37 e
118):
·
1o /4/1858 - Galerie de Valois, 35, no
Palais Royal. As reuniões eram às terças-feiras. O Palais Royal é importante
edifício histórico situado ao lado do Louvre. Foi construído pelo Cardeal
Richelieu no século XVII. Suas elegantes galerias externas, que circundam o
jardim (Galeries Montpensier, de Beujolais e de Valois), foram mandadas
construir por Louis-Philippe d’Orléans, na segunda metade do século seguinte.
Na Galerie d’Orléans (do séc. XIX) ficavam as livrarias de Dentu (no 13) e Ledoyen (no 31), que editaram várias das obras espíritas
de Kardec (ver adiante).
·
1o /4/1859 - Galerie Montpensier, 12,
no Palais Royal (num salão do restaurante Douix). Nesse local SPES reunia-se às
sextas-feiras.
·
20/4/1860 - Passage Ste.-Anne (Rue Ste.-Anne,
59). Nesse mesmo endereço, a
partir de 15 de julho, passa a residir Kardec, que levou consigo a Revue Spirite. Embora nessa época já
possuísse a casa da tranqüila Villa Ségur, Allan Kardec viu-se na contingência
de se alojar nesse apartamento com a abnegada esposa, dividindo espaço com a Revue e a SPES, para economizar seu
minguado tempo.
·
1/4/1869
- Estava programada para essa data a transferência provisória da Société para a
Librairie Spirite, Rue de Lille, 7. Com a desencarnação de Kardec, a
transferência ainda se verifica, mas a SPES não se sustenta por muito tempo.
6. As outras
obras importantes de Allan Kardec
Fornecemos
a seguir alguns dados sobre as principais obras de Allan Kardec (além de O Livro dos Espíritos, de que já
tratamos; para uma lista possivelmente completa, ver AK III 15, 18 e 19). Algumas das informações referentes a dias e
meses das publicações foram colhidas nas edições da FEB. Quanto às edições em
francês atuais, indicamos as que pessoalmente possuímos; em alguns casos, há
nas livrarias outras edições.[9]
Abreviaremos os dados referentes aos editores originais segundo estas
convenções (note-se que várias das obras saíram por mais de um editor):
·
Dentu
¾ E. Dentu, Libraire. Palais Royal, Galerie
d’Orléans, 13.
·
Ledoyen
¾ Ledoyen, Libraire. Palais Royal, Galerie
d’Orléans, 31.
·
Didier
¾ Didier et Cie., Libraires-Éditeurs.
Quai des Augustins, 35.[10]
1858 - Instrução Prática sobre as Manifestações
Espíritas (Instruction pratique sur
les manifestations spirites). Contendo a exposição completa das condições
necessárias para se comunicar com os Espíritos, e os meios de se desenvolver a
faculdade mediadora nos médiuns. Paris, bureau da Revue Spirite, Rue des Martyrs, 8; Dentu; Ledoyen.
Com a
publicação de O Livro dos Médiuns, em
1861, Kardec deixou de imprimir a Instrução
(152 pp.), à época já esgotada, considerando-a superada, quanto à abrangência,
pela nova obra. O livro é, porém, de significativo valor histórico; hoje está
novamente disponível em francês (Paris, La Diffusion Scientifique) e em
português, em tradução de Cairbar Schutel (in: Iniciação Espírita, 6a ed., São Paulo, Edicel,
1977; foi também publicado pela Casa Editora O Clarim, de Matão, em 1987).
1859 - O que é o Espiritismo (Qu’est-ce que le Spiritisme). Introdução
ao conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, contendo
o resumo dos princípios da doutrina espírita e respostas às principais
objeções.[11]
Ledoyen. [100 pp.]
Edição
francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Tradução brasileira recomendada: Rio,
FEB (não se indica o tradutor).
1860 -
(março) - Segunda edição de O Livro dos
Espíritos. Contendo os princípios da doutrina Espírita sobre a imortalidade
da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens; as leis
morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade. Segundo o
ensino dado pelos Espíritos Superiores com o auxílio de diversos médiuns,
recolhidos e ordenados por Allan Kardec. Segunda edição, inteiramente refundida
e consideravelmente aumentada. Didier; Ledoyen.
Acima do
título, aparece agora a frase “Filosofia espiritualista”. Essa nova edição, que
se tornou definitiva, tem 1019 questões, distribuídas em quatro partes. É
acrescentada a Conclusão, mas o índice alfabético infelizmente não mais existe.
A forma de exposição dupla não aparece em nenhuma das partes. As notas vêm
agora logo após as respostas dos Espíritos, sendo muitíssimo mais numerosas; é
fácil ver que muitas delas provêm do texto corrido da primeira parte da
primeira edição.[12]
1861 - (15
de janeiro) - O Livro dos Médiuns (Le livre des médiums), ou guia dos
médiuns e dos evocadores. Contendo o ensino especial dos Espíritos sobre a
teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de se comunicar com o
mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os
escolhos com que se pode deparar na prática do Espiritismo. Para fazer
seqüência ao Livro dos Espíritos.
Didier; Ledoyen. [498 + iv pp.; AK
III 173]
1861 -
Segunda edição de O Livro dos Médiuns.
Revista e corrigida com o concurso dos Espíritos, e acrescida de grande número
de instruções novas. Didier;
Ledoyen. [510 + viii pp.]
Edição
francesa corrente: Paris, Dervy-Livres. Edição brasileira recomendada: FEB,
tradução de Guillon Ribeiro, inteiramente revista a partir da 59ª edição.
1862 -
(fevereiro) - O Espiritismo na sua expressão
mais simples (Le Spiritisme à sa plus
simple expression). Exposição sumária do ensino dos Espíritos e de suas
manifestações. Ledoyen. [36 pp.]
Em 1994
esse opúsculo foi recentemente reeditado pelo Centre d’Études Spirites Allan
Kardec, de Paris. Existem várias traduções para o vernáculo, sendo hoje
disponíveis as de Dafne R. Nascimento, publicada pela Federação Espírita do
Estado de São Paulo em 1984, e a de Joaquim da Silva Sampaio Lobo (in: Iniciação Espírita, 6a
ed., São Paulo, Edicel, 1977).[13]
1862 - Viagem Espírita em 1862 (Voyage spirite en 1862). Contendo: 1. As
observações sobre o estado do Espiritismo; 2. As instruções dadas por Allan
Kardec nos diferentes grupos; 3. As instruções sobre a formação dos grupos e
das sociedades, e um modelo de regulamento para o uso deles e delas. Ledoyen.
[64 pp.]
Esse
livro é atualmente publicado em Paris pela Éditions Vermet; no Brasil, em
Matão, pela Casa Editora O Clarim, em tradução de Wallace Leal Rodrigues.
Nenhuma dessas edições trazem dizeres após o título; tomamo-los de AK III 18.[14]
Afora as mencionadas instruções e regulamento, o corpo da obra consiste de três
discursos proferidos por Kardec aos espíritas de Lyon e Bordeaux em sua famosa
viagem.
1864 -
(abril) - Imitação do Evangelho segundo o
Espiritismo (Imitation de l’Évangile
selon le Spiritisme). Contendo a explicação das máximas morais do Cristo,
sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições da
vida. Por Allan Kardec, autor do Livro
dos Espíritos. Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a
razão, em todas as épocas da Humanidade. Paris, os editores do Livro dos Espíritos; Ledoyen, Dentu,
Fréd. Henri, livreiros, no Palais Royal, e no escritório da Revue Spirite, Rue e Passage Sainte-Anne,
59.
Essa
obra, impressa na Imprimerie de P.-A. Bourdier et Cie, Rue Mazarine,
30, possui 444 + xxxvi páginas. É precursora de O Evangelho segundo o Espiritismo. No entanto, é de grande valor
histórico, sendo essa a razão pela qual em 1979 a FEB reeditou-a em reprodução
fotográfica. Não temos notícia de outras edições recentes, nem de traduções.
Naturalmente, ‘imitação’ aqui não se deve entender no sentido hoje popular, de
‘cópia’, mas no de ‘prática’ (ver as anotações de Hermínio Miranda à edição
febiana para esclarecimentos adicionais).
1865 - (1o
de agosto) - O Céu e o Inferno, ou a
Justiça Divina segundo o Espiritismo (Le
ciel et l’enfer, ou la justice divine selon le Spiritisme). Contendo o
exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida
espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas
eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma
durante e depois da morte. “Por mim mesmo juro, disse o Senhor Deus, que não
quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e
que viva.” (Ezequiel, 33:11). Paris;
os editores de O Livro dos Espíritos,
Librairie Spirite.
Em nossos
dias, está disponível edição belga da Éditions de l’Union Spirite. A tradução
da FEB é, neste caso, de Manuel Quintão. (AK
III 108 faz menção à “21a edição, revista, 1974, FEB.”)
1866 - O Evangelho segundo o Espiritismo (L’Évangile selon le Spiritisme).
Os
dizeres da página de rosto são idênticos aos de Imitation, exceto pela data e pela frase “Terceira edição, revista,
corrigida e modificada”. Segundo se infere do que é dito no prefácio de Thiesen
à edição febiana de Imitation (página
15, não numerada), a segunda edição, de 1865, seria apenas outra tiragem da
edição princeps. No entanto, em AK III 18 está escrito: “Da 2a
ed. - 1865 - em diante, essa obra tomou novo
título...”, querendo-se com isso dizer que já na 2a edição o
título fora mudado para O Evangelho
segundo o Espiritismo, tal como consta na coluna 322 do tomo II do Catalogue Général des livres imprimés de la
Bibliothèque Nationale (Auteurs), Paris, Imprimerie Nationale, MDCCCXCIX,
edição essa assim catalogada na referida Biblioteca: R 39901. Na Revue de 1865, meses antes do lançamento
da 3a edição, já se fazia referência, em artigos, a O Evangelho segundo o Espiritismo,
certamente da 2a edição.[15]
De
qualquer modo, é a terceira edição que se tornou definitiva, servindo de base
para as edições posteriores em francês e nos vários idiomas em que foi
traduzida. Também devido à sua raridade e seu valor histórico, a FEB lançou, em
1979, uma reprodução fotográfica dessa edição. Na França, é hoje em dia
publicada por La Diffusion Scientifique. Em português, a tradução clássica
recomendada é a de Guillon Ribeiro (FEB), inteiramente revista a partir da 104a
edição.
1868 - (6 de janeiro) - A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo (La genèse, les miracles et les prédictions selon le Spiritisme). Paris, Librairie Internationale.
Esse foi
o último livro publicado por Kardec. Pode ser encontrado hoje em edição da La
Diffusion Scientifique, de Paris. A corrente edição da FEB foi traduzida por
Guillon Ribeiro, da 5a edição francesa, “revista, corrigida e
aumentada”.
1890 - Obras Póstumas (Œuvres Posthumes). Paris, Société de Librairie Spirite. [450 pp.]
Organizado
e editado por Pierre-Gaëtan Leymarie, esse livro reúne importantes textos de
Kardec, quer de caráter teórico, sobre diversos assuntos, quer sobre fatos
relativos às atividades espíritas do mestre. Em AK III 19 lê-se que uma segunda edição veio a lume ainda no mesmo
ano de 1890. Guillon Ribeiro traduziu o livro para a FEB, a partir da primeira
edição francesa. Hoje está disponível, em francês, a edição parisiense da
Dervy-Livres, em que, no entanto, as matérias foram rearranjadas e renomeadas
relativamente à edição original de Leymarie. Um aprofundado estudo sobre a
história dessa obra pode ser lido no artigo “No centenário de Obras Póstumas”, de Zêus Wantuil,
estampado em Reformador de janeiro de
1990, pp. 3 e 4.
Consoante
o objeto deste nosso trabalho, a lista que acaba de ser dada menciona somente
os textos mais importantes, dando, a seu respeito, apenas algumas informações
básicas. O volume III da obra Allan
Kardec é de consulta obrigatória para o estudioso que queira acercar-se da
fonte mais extensa e segura de dados sobre o conjunto da produção de Kardec.
7. A partida de
Allan Kardec e alguns acontecimentos posteriores
1869 - (31
de março) - Desencarna subitamente Allan Kardec, enquanto atende a um caixeiro
de livraria, no seu apartamento da Rue Ste.-Anne, muito provavelmente vitimado
pela ruptura de um aneurisma de aorta (AK
III 110, 116 e 119). No dia seguinte, deveria desocupar esse imóvel, indo para
a casa da Villa Ségur; os escritórios da Revue
iriam para a Rue de Lille, 7 (onde funcionava a Librairie Spirite), que
sediaria também a SPES.
O corpo
foi sepultado ao meio-dia de 2 de abril, no cemitério de Montmartre. Estima-se
que mais de mil pessoas acompanharam o cortejo, que seguiu pelas ruas de
Grammont, Laffitte, Notre-Dame-de-Lorette, Fontaine e pelo Boulevard de Clichy.
À beira da sepultura, Camille Flammarion, astrônomo e médium da SPES,
pronunciou o seu importante discurso, que a FEB fez figurar na sua edição de Obras Póstumas. Na primeira reunião da SPES
após esse fato, os membros presentes lançaram a idéia de se levantar um
monumento ao mestre, que logo recebeu adesão de espíritas de muitas cidades.
Foi assim que se fez construir o famoso dólmen do cemitério Père-Lachaise, para
onde os restos mortais de Kardec foram transladados a 29 de março de 1870.
1870 - (31
de março) - Inaugura-se o monumento druida do Père-Lachaise. Esse famoso
cemitério é considerado museu, tendo sido ali sepultados inúmeros dos grandes
vultos franceses e mesmo de outros países. O de Kardec é o túmulo mais visitado
e o mais florido de todos.[16]
Quando de
sua inauguração, o dólmen não registrava a célebre frase “Nascer, morrer,
renascer ainda e progredir continuamente, tal é a lei”, que foi insculpida
ainda em 1870. Ao contrário do que muitas vezes se afirma, essa frase não se
deve textualmente ao próprio Kardec, não obstante represente corretamente o
pensamento espírita (AK III 118-152).
1871 - (
junho) - Pierre-Gaëtan Leymarie assume a gerência da Revue e da Librairie Spirite (AK
III 157).
1875 - Vêm
à público as primeiras edições brasileiras de livros de Kardec (excetuando-se o
já citado opúsculo O Espiritismo na sua
Expressão mais simples, publicado em São Paulo em 1862; ver nota no
10, acima): O Livro dos Espíritos, O
Livro dos Médiuns e O Céu e o Inferno, traduzidos pelo Dr. Joaquim Carlos
Travassos. No ano seguinte, 1876, também apareceria, pelo mesmo tradutor, O Evangelho Segundo o Espiritismo. O
Editor dessas obras foi B. L. Garnier, do Rio de Janeiro. (AK III 175-80)
1883 - (21
de janeiro) - Desencarna Madame Allan Kardec. Dois dias após seu corpo é
sepultado junto ao do esposo, no Père-Lachaise, saindo o féretro de sua casa na
Villa Ségur. Amélie-Gabrielle Boudet nascera em 1795, a 23 de novembro, e não a
21, como se insculpiu no túmulo. (AK
III 158-60)
1883 - (21
de janeiro) - Fundação, por Augusto Elias da Silva, da revista Reformador.
1884 - (2
de janeiro) - Fundação da Federação Espírita Brasileira, também por Augusto
Elias da Silva, à qual Reformador
passa a pertencer.
1898 - A Revue muda-se da Rue du Sommerard, 12
para a Rue St.-Jacques, 42, onde permaneceu por um bom tempo; no local existe
hoje a Librairie Leymarie, que pertenceu a Pierre-Gaëtan Leymarie. (AK III 226-27)
1923 - Jean
Meyer funda a Maison des Spirites, na Rue Copernic, 8 (AK I 172; cf. porém AK
III 203 ). Continha arquivos importantes que foram destruídos pelos nazistas.
Sediou a Éditions Jean Meyer (B.P.S), que publicou muitas das obras clássicas
do Espiritismo, bem como a Revue, de
1923 a 1971, quando morreu Hubert Forestier (AK III 227).
8. Relação dos
endereços:
Fornecemos
abaixo uma relação dos principais endereços ligados ao Espiritismo na França,
destinada a facilitar visitas e a localização em mapas:
1)
Rue
Sale, 76 (Lyon) - Local onde nasceu Rivail.
2)
Rue
de la Harpe, 117 - Rivail estava nesse endereço em janeiro de 1823.
3)
Rue
Vaugirard, 65 - Rivail esteve nesse endereço pelo menos de 1828 a 1831.
4)
Rue
Christine, 5 - Imprimerie de Pilet-Ainé, que em 1824 publicou o primeiro livro
de Rivail.
5)
Rue
de Sèvres, 35 - Institution Rivail, de 1826 a 1834; Lycée Polymathique, até
1850.
6)
Rue
Grange-Batelière, 18 - Casa da Sra. Plainemaison, onde Rivail fez as primeiras
observações, em maio de 1855.
7)
Rue
Rochechouart - Família Baudin, 1855. Aqui começaram as pesquisas sistemáticas
de Rivail.
8)
Rue
Lamartine - Novo endereço dos Baudin, a partir de 1856. Grande parte do
trabalho inicial de Kardec desenvolve-se nesse local.
9)
Rue
Tiquetonne, 14 - Casa do Sr. Roustan. Com a médium Srta. Japhet, Rivail
realizou aí importantes trabalhos, como a revisão de O Livro dos Espíritos.
10)Rue des Martyrs, 8 (segundo andar,
ao fundo do pátio) - Residência de Rivail pelo menos desde março de 1856,
ficando até 14/7/1860. Em outubro de 1857, começaram aí as reuniões de estudo
que dariam origem à SPES. No local foi lançada 1a edição de O Livro dos Espíritos (18/4/57) e a Revue Spirite (1/1/58).
11)Saint-Germain-en-Laye (23 km oeste
de Paris) - Imprimerie de Beau, que imprimiu a 1a ed. de O Livro dos Espíritos e a Revue Spirite.
12)Galerie d’Orléans, 13 (Palais Royal)
- Dentu, editor da 1a edição de O Livro dos Espíritos, da Instrução
Prática, da Imitação e de O Evangelho.
13)Galerie d’Orléans, 31 (Palais Royal)
- Ledoyen, editor da 2a ed. de O Livro dos Espíritos, da Instrução,
de O Livro dos Médiuns, de O Espiritismo em sua expressão mais simples,
da Viagem Espírita, da Imitação, de O Evangelho e de O Céu
e o Inferno.
14)Galerie de Valois, 35 (Palais Royal)
- primeiro endereço da SPES, a partir de 1/4/58 (reuniões às terças-feiras)
15)Galerie de Montpensier, 12 (Palais
Royal; restaurante Douix) - segundo endereço da SPES, a partir de 1/4/59.
16)Quai des Augustins, 35 - Didier et Cie,
editor da 2a edição de O
Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns e de O Céu
e o Inferno.
17)Rue Mazarine, 30 - Imprimerie de
P.-A. Bourdier et Cie, que imprimiu L’Imitation de l’Évangile, em abril de 1864.
18)Passage Sainte-Anne (Rue
Sainte-Anne, 59) - SPES, a partir de 20/4/60; domicílio de Kardec e Revue Spirite, a partir de 15/7/60;
19)Villa Ségur (Av. de Ségur, 39) -
casa de propriedade de Kardec pelo menos desde 1860, para a qual se mudaria
definitivamente em 1/4/1869. O casal por vezes usava a casa para recepcionar visitas
e para realizar trabalhos que exigiam recolhimento. Amélie-Gabrielle ficou nela
até sua morte, em 1883. Era desejo de Kardec que a casa se transformasse,
quando não mais estivessem encarnados ele e a esposa, em abrigo para espíritas
desvalidos.
20)Rue de Lille, 7 - Revue e SPES depois da morte de Kardec
(31/3/69); aí já funcionava a Librairie Spirite.
21)Rue du Sommerard, 12 - Sediou a Revue por breve período, de 1897 (quando
foi liquidada a Librairie Spirite ) a 1898 (AK
III 202, 227 e 262).
22)Rue Saint-Jacques, 42 - Librairie
Leymarie, que abrigou a Revue de 1898 até 1923 (AK III 227); existe ainda hoje como livraria espiritualista.
23)Rue Copernic, 8 - Maison des
Spirites, fundada em 1923 por Jean Meyer (AK
I 172), funcionou até a década de 1970.
24)Rue Jean-Jacques Rousseau, 15 -
Union Spirite Française, fundada em 1919 por Jean Meyer e Gabriel Delanne;
substituída em 1976 pela U.S.F.I.P.E.S.
25)Rue du Docteur Fournier, 1, 37000
Tours - Union Spirite Française et Francophone, que atualmente publica La Revue Spirite.
26)Rue de Flandre, 131, Résidence Île
de France, bâtiment E1, 75019 Paris, tel.: (01)42090869- Centre d’Études
Spirites Allan Kardec (em funcionamento).
27)Cemitério de Montmartre (região
norte de Paris) - Sepultamento de Kardec a 2/4/69.
28)Cemitério do Père-Lachaise (região
leste de Paris) - Sepultura definitiva de Kardec, a partir de 29/3/70; o dólmen
é inaugurado dois dias depois.
[1] Gostaríamos de expressar nosso
agradecimento a Zêus Wantuil, que leu com excepcional cuidado uma versão
preliminar deste trabalho, contribuindo, com sua experiência e erudição, para
que diversas falhas de conteúdo e de forma fossem eliminadas. Forneceu-nos
ainda algumas informações históricas bastante relevantes, que não pudéramos
haver obtido de outra forma; as principais delas são explicitamente indicadas
nos locais pertinentes do texto.
[2] Na p. 79 do vol. I da obra Allan Kardec, encontra-se estampada a
página de rosto de uma edição parisiense de 1961 do livro de Moreil, da editora
Sperar. Em sua introdução a esse vol. I, Thiesen se refere, à p. 26, a uma
tradução para o vernáculo, de Miguel Maillet, publicada sem data em São Paulo
pela Edicel. Zêus Wantuil gentilmente informou-nos que tal tradução brasileira
teve sua impressão concluída em junho de 1966.
[3] A primeira edição dessa biografia
data de 1896 e aparecia traduzida na coletânea O Principiante Espírita, que a FEB publicava no passado; a quarta
edição foi prefaciada por Léon Denis (ver Allan
Kardec, vol. I, pp. 200, 198 e 29; vol. II, p. 15). Há referências a uma
“nouvelle édition”, de 1910, com prefácio de Gabriel Delanne (ver ibid., vol
III, p. 117 e vol II, p. 15).
[4] Em Obras Póstumas, p. 271, há uma comunicação atribuída à mediunidade
da Senhora (“Mme” )
Baudin; teria sido uma falha tipográfica, ou ela também era médium? Embora na
página 267 Kardec diga que os médiuns eram “as duas senhoritas Baudin”, nas comunicações mediúnicas transcritas
nunca especifica qual serviu de médium, escrevendo simplesmente “Mlle
Baudin”. Na Revue Spirite de 1858
(ver AK II 64-65) Kardec refere-se
explicitamente a uma série de comuncações transmitidas por Caroline, notando,
incidentalmente, que “mais tarde o médium se serviu da psicografia direta”. Em OP 271 Kardec relata que em fins de 1857
ambas se casaram e a família se dispersou, ficando implícito que não pôde mais
contar com sua mediunidade. Em seus controversos comentários à edição bilíngüe
da primeira edição de O Livro dos
Espíritos (p. viii), Canuto Abreu avança que Caroline e a irmã tinham, em
agosto de 1855, 16 e 14 anos, respectivamente, e que a mais velha era o médium
principal; não pudemos confirmar essas informações em fontes independentes.
[5] Esses dizeres que se seguem ao
título são os que constam da página de rosto da obra (ver fac-símile à p. 75 de
AK II). Observações semelhantes valem
para os demais livros de Kardec mencionados nas seções seguintes.
[6] Em 1866 sofreu séria crise de
saúde, conseqüente à sobrecarga de trabalho e de preocupações, sendo assistido
pelo Dr. Demeure, que o advertiu quanto aos limites das forças corporais. Por
insistência desse Espírito, Kardec passou a contar, para a correspondência
comum e a parte mais material das tarefas, com a ajuda de um secretário, o Sr.
A. Desliens, médium e membro da SPES ( AK
III 111, 286, 301, 302 e 42). Com a desencarnação do mestre em março de 1869,
Desliens ficou como secretário-gerente da Revue,
até junho de 1871 (AK III 157, 136).
[7] A Union Spirite Française foi
fundada por Jean Meyer e Gabriel Delanne em 1919, não tendo relação direta com
a antiga SPES, que encerrou suas atividades ainda no século passado, bem pouco
tempo após a morte de Kardec. (AK II
16 e 17; III 156)
[8] Notícia veiculada em Reformador, abril e maio de 1990, pp.
128 e 130, respectivamente; ver também La
Revue Spirite, janeiro de 1997 (no 30), p. 7. Assinaturas
podem ser feitas escrevendo-se para o endereço da USFF: 1, Rue du Docteur
Fournier, 37000 Tours, France. A USFF pode também ser contactada por e-mail
(union.spirite@creaweb.fr), tendo recentemente inaugurado sua “página” na
Internet (http://www.creaweb.fr/union-spirite). Além de editar La Revue Spirite, a Union, promove o
intercâmbio entre os grupos espíritas da França (pouco mais de uma dezena, a
maioria de criação recente), e tem representado o movimento espírita francês no
plano internacional. Segundo se depreende de artigo da autoria de Affonso
Soares publicado em Reformador de
novembro de 1986 (p. 341), a USFF teria sido fundada em fins de 1985, junto com
uma publicação oficial, a Revue des
Spirites. No entanto, no número de junho de 1989 do periódico febiano, o
mesmo autor diz que a fundação da Union ocorreu em 1987; este dado parece dever-se a um lapso. Neste artigo mais
recente assevera-se ainda que a publicação trimestral se chama La Nouvelle Revue Spirite. Desse modo,
antes de conseguir recuperar o título ‘La
Revue Spirite’ o valoroso grupo espírita de Tours teria dado dois outros
nomes à sua revista.
[9] No “site” da Federação Espírita
Brasileira na Internet (http://www.febrasil.org.br)
estão disponíveis diversas obras de Kardec, em francês, português, inglês e
espanhol. Alguns outros originais franceses podem ser encontrados no “site” do
Centre d'Études Spirites Léon Denis (http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/).
No primeiro desses endereços também está a Livraria Virtual da FEB, com seu
rico acervo de obras. Destacamos ainda que as exemplares traduções febianas das
obras de Kardec foram recentemente lançadas em CD-ROM, que pode ser adquirido escrevendo-se
para a FEB ou para info@apalavradigital.com.br
.
[10] Pierre-Paul Didier foi um dos mais
dedicados colaboradores de Kardec, membro fundador da SPES, tendo nela atuado
como médium (AK III 377, 79, 323 e
82); desencarnou em 2/12/1865, mas como Espírito continuou diretamente
envolvido nas atividades de Kardec (ibid. 85, 92, 289).
[11] Não vimos a primeira edição; nas
edições a que tivemos acesso, há divergência quanto ao texto que segue ao
título. O que traduzimos consta da edição atual da Dervy. Nas notícias da
segunda edição de O Livro dos Espíritos (ver
fac-simile no Reformador de abril de
1989, p. 105) está do seguinte modo: “Introduction à la connaissance du monde
invisible ou des Esprits, contenant les principes fondamentaux de la doctrine
spirite et la réponse à quelques objections préjudicielles.” O que se encontra
em AK III 15 corresponde
aproximadamente a esse texto.
[12] Constatou-se, em época
relativamente recente (ver Reformador,
abril de 1989, pp. 104-107), que Kardec anexou à segunda edição algumas notas e
erratas, destinadas a complementar e corrigir o texto. Pôde-se também verificar
que na oitava edição elas ainda apareciam; não se sabe a partir de qual edição
deixaram de figurar, nem por que Kardec não conseguiu inserir as correções e
acréscimos refundindo o texto. Lamentavelmente, nem as edições francesas atuais
nem as traduções para o vernáculo incorporam ou sequer mencionam as
modificações, que o próprio Kardec considerava imprescindíveis. Parece-nos de suma importância que esse material
venha a público de forma completa, e que seja incorporado às novas edições.
[13] Em AK III 18, 176 e 353-54 informa-se acerca de três traduções
antigas: uma por Alexandre Canu, colaborador da SPES, “que se achava à venda
com J.P. Aillaud, Monlon e C..., em Lisboa, Rio de Janeiro e em Paris (1862);
outra publicada em São Paulo, sem indicação de tradutor, pela Typographia
Litteraria (1866); e finalmente outra da FEB, traduzida e anotada por Guillon
Ribeiro (não se menciona a data da primeira edição, dizendo-se apenas que ainda
há nos arquivos exemplares de 1921 e 1933).
[14] Zêus Wantuil gentilmente
confirmou-nos que são os que constam na edição original da obra.
[15] As substanciais informações desse
parágrafo foram-nos comunicadas por Zêus Wantuil, a quem agradecemos.
[16] Destaca-se esse ponto no próprio
mapa do cemitério. Na madrugada 2 de julho de 1989 o túmulo sofreu um atentado
a bomba, que o danificou parcialmente, sendo posteriormente restaurado pela
Prefeitura de Paris. (Reformador,
julho de 1989, p. 194, e setembro de 1990, p. 284.)